quarta-feira, 16 de março de 2011

Minha terra,meu amor.

piscina da Gabela
Cachoeiras da Binga(Gabela-Kuanza-Sul)

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

"um dia estive no paraíso,estive na Gabela"O Vendedor de passados de José Eduardo Agualusa.

Passados 50 anos de um dos acontecimentos mais marcantes da história da colonização portuguesa,o massacre de 15 de Março de 1961,leva-me a recordar como a minha vida podia ter sido diferente ou até se é que algum dia tivesse chegado a nascer.Em boa hora os meus pais abandonaram o norte de Angola e foram viver para a Gabela em 1958 .Apesar de na Gabela também se ter vivido uma certa tensão,era inevitável e muitas injustiças foram cometidas,nem de perto se pode fazer uma comparação com os massacres do norte,até porque não me lembro de algum registo de um assassinato de um fazendeiro branco na zona,já a reacção dos brancos em relação aos negros que apenas exigiam ser mais bem remunerados,bem nem é bom falar,foi de uma violência inexplicável.
O meu pai disse-me um dia que o seu pior passo na vida foi ter ido para Angola.encontrava-se já acamado e enfermo,desiludido pelos desencontros que a sua vivência em Portugal lhe trouxe e sentia-se um derrotado por ter perdido tudo o que construiu em Angola,mas ainda hoje acho que a sua maior perda foi ter que fugir daquele paraíso,de um dia para o outro sem ter tido a possibilidade de se despedir de toda aquela terra,daqueles rios,daquela vegetação,daqueles morros da Gabela,daqueles imensos cafezais,da alegria daquele povo,penso que até as chuvadas tropicais nunca mais nos abandonam,aquela violência que inundava as ruas da cidade,que fazia transbordar rio Mazungue,toda aquela violência que destruía os campos das massarocas,era de uma violência excitante e então aquelas pingas de agua de temperatura amena,meu Deus que saudade,então quem apanha com esta chuva gelada do norte de Portugal,inevitavelmente nunca se esquece de Angola,penso até que é uma das maldades da natureza em fazer-nos lembrar que um dia vivemos no paraíso.
É claro que eu disse ao meu pai,que ele não tinha noção do que estava a dizer,pois eu dava tudo na vida para ter vivido o que ele viveu com os seus 20 anos,chegar a Angola quando ainda não havia um único metro de alcatrão e sair de lá com 10.000 quilómetros dele,andar a trabalhar em fazendas de café onde nos tempos das chuvas eram capazes de ficarem semanas sem ter a capacidade de se movimentarem,podem dizer o que quiserem,podem falar em massacres e nas muitas injustiças que existiam,mas a verdade é que houve gente que batalhou e viveu muito,o meu pai foi um deles e o seu maior legado,é o facto de todos os seus filhos(três)terem o orgulho de terem nascido naquele paraíso(ANGOLA-GABELA).

2 comentários:

Retornado disse...

O caputo disléxico jamais entederá esta mensagem!

José Sousa disse...

Que beleza acabei de ler! Ler algo da terra que me recebeu com amor e carinho! A terra onde cresci no tempo e na sabedoria! Na terra onde saboriei os melhores alimentos e respirei o melhor ar. Gabela - Kwanza-sul minha amada!

Vá até meus blogues "Angola eu te amo" e "Transpondo Barreiras" em

www.congulolundo.blogspot.com

www.transpondo-barreiras.blogspot.com

Um abraço do tamanho do Amboim.